Em 1910, em uma conferência internacional da mulher, a ativista Clara Zetkin foi responsável pela configuração do que chamamos hoje de DIA INTERNACIONAL DA MULHER.
É muito bonito lembrar que existimos no dia 08 de março e que estamos doando o melhor de nós mesmas para que as coisas aconteçam.
Mas hoje, dia 08 de março de 2018, o meu objetivo aqui é trazer um pouco da nossa realidade. Não para você se identificar inteiramente, ou mesmo sentir-se mal, mas para simplesmente falar sobre o assunto. É preciso falar.
Talvez eu seja aquela profissional que o chefe ou colega admiram. Mas ainda assim sou mulher. E mãe. Solteira.
Sempre fui discreta no mundo empresarial por entender que assuntos “em casa” são irrelevantes e que isso realmente eu resolvo em casa.
Porém, quando chega esse dia e as diversidades de eventos que a mídia configura como algo “lembrado e respeitado”, me remete a pensar em mim como profissional, mulher e mãe solteira. E isso me faz pensar nas milhares de mulheres que talvez passem por isso também.
A minha filha nasceu quando eu tinha 17 anos. E quase dez anos depois minha mãe faleceu, deixando quatro filhos e uma neta. Eu ainda morava com ela. Logo ela, mãe e chefe de família, que sempre tinha o que falar sobre qualquer problema. Eu cresci em um ambiente onde tinha uma mãe fxxx no que fazia – ela era Promotora de Justiça no Ministério Público -, mas que chegava em casa e perdia toda autoridade com marido, ex marido e filhos.
Alguém que trabalhava e talvez só quisesse paz para continuar seu propósito na vida, mas que por uma força do destino – ou não – acabara caindo no viés ou “seja uma baita profissional e esqueça o resto”, ou “esqueça a profissão e seja uma baita esposa e mãe”.
Hoje entendendo a minha mãe, sei que era um paradoxo viver assim: de um lado os filhos, talvez não programados, mas bem-vindos. De outro, uma profissional excelente, vivendo a cada dia a adrenalina de alguém que faz o que ama e tem coragem de vivenciar desafios.
E a triste realidade? Ainda vivemos assim. Nesse paradoxo. E estatisticamente isso é real.
Ainda escuto de pessoas próximas que não querem contratar mulheres pois elas engravidam e logo vão dar problemas e gaps na operação. Escuto de clientes (muitas delas mulheres) o pedido de aceite de todos os tipos de candidatos, menos mulheres que têm filhos pequenos e sozinhas, pois também vão gerar possíveis transtornos.
A mulher moderna tem a escolha de querer ter filho ou não – e que legal, há pouco tempo nem votar tínhamos direito. Pois aqui há uma opinião exclusiva minha: se o mundo fosse mais igual, inclusive para as mulheres mães, será que precisaríamos fazer essa escolha?
Voltamos então ao paradoxo do sucesso na carreira de uma mulher.
De fato as mudanças que ocorrem no mundo dos negócios são pautadas naquilo que é mais lucrativo. E por que será que, mesmo a ONU provando por A + B que contratar um mulher para o cargo de gestão seja algo vantajoso economicamente, ainda assim somos vistas como um recurso humano problemático?
E a minha história? posso dizer que fui criada sem muitas crenças de diferença de gêneros ou quaisquer tipos de coisas assim. Primeiro pela minha mãe, que embora mergulhada em uma sociedade machista (leia-se: cultura machista, sem generalizar), fez acontecer. Segundo por ter um pai criado por mãe solteira (minha vó tem 90+). Tive tudo igual ao meu irmão mais velho: desde viagem de 15 anos (igual para ambos), passando pelo computador da década de 90 até as pequenas ações em casa.
Dessa forma, me fui ao mercado. Com meu pacote extra, minha pequena. Aos 18 anos participei de processos de estágios, aos 22 de trainee, entrevistas de emprego, de tudo que se possa imaginar. Sempre me qualifiquei e me apresentei como igual a qualquer outro candidato concorrente. Sempre fiz questão disso. Após muitos “nãos” e me questionando se o problema era comigo, entendi que era o game do mercado. Pesquisei e cai na realidade:
CEOs mulheres quase inexistem no mercado. Um dos motivos é que em determinado momento de suas carreiras elas precisam escolher: ou filhos e família, ou trabalho. Sim, li bastante sobre isso. E sim, resumi o assunto aqui.
Lembro-me ainda, em um passado recente, de uma entrevistadora me perguntar se o pai da minha filha sabia e tinha autorizado, pois eu queria me mudar para outra cidade, antes mesmo de fazer a entrevista comigo.
Surpresas a parte, tive muita sorte de conhecer pessoas e trabalhar em empresas que, de certa forma, não davam “bola” para isso. Que me deram oportunidades que a grande maioria das empresas ditas “desejáveis” não me dariam.
Porém, digo isso com propriedade: preconceito existe sim. Crenças existem sim. E a mulher, em toda sua trajetória de independência teve e deve se reinventar.
Em 2008 abri a minha primeira empresa.
Em 2014 comprei minha franquia de prestação de serviços em RH.
Em 2016 surgiu a Wakeup carreira, empresa liderada por jovens mulheres, mães de família que, assim como eu, acreditam no seu propósito, nas suas competências e que, por diferentes motivos, não conseguiram enxergar no mercado de trabalho uma chance de alavancagem real e uso dos seus potenciais.
E trabalhamos remotamente, somos colaborativas, temos flexibilidade de horário, entendemos que cada pessoa tem a sua hora de produtividade e sua hora de ficar com a família. E estamos crescendo, já atuando em diversas regiões do Brasil.
Somos profissionais, mães, mulheres, e que entregam o seu melhor para cada um que nos procura com muito carinho, atenção e profissionalismo.
Somos uma empresa feita por mulheres, para o mundo.
Minha mensagem aqui no dia de hoje é para que você reflita de que forma está se expressando ao mundo? Faça sua parte, seja você gestor de empresa, líder, pai de família, mãe, profissional. Dê a você mesmo uma chance de conhecer as pessoas de perto sem distinção de gênero. Acredite no potencial, seja seu ou da pessoa que está ao seu lado. Somos seres colaborativos por essência. E humanos.
Minha eterna gratidão e admiração à todas as mulheres que, assim como eu, lutam diariamente para construir seu lugar ao sol !
Um abraço.
Escrito por Mari da Wakeup, mãe da Renata, irmã da Jú e da Carla, dona de casa, corredora, terapeuta floral, consultora, mentora, coach, …