O desafio intergeracional anticarreirista: a vez dos 50+

Carreira, futuro do trabalho

Atualmente, muitos segmentos dentro do contexto da diversidade e da inclusão estão sendo valorizados, ou pelo menos, aparecendo para o mercado de trabalho como possibilidades de empregabilidade. 

Há vários aspectos da diversidade e inclusão, como raça, etnia, gênero, que já vinham sendo tratados pelos pesquisadores e estudiosos como aspectos muito relevantes e que, consequentemente, estariam com seus dias contados no tocante à discriminação e aos preconceitos velados ou abertos.

A grande novidade nos campos multigeracionais, atualmente, é a convivência pacífica entre ‘maduros” experientes, ricos em conhecimento e flexibilidade de um lado; e jovens dotados de extrema agilidade, vivacidade, impulsivos, facilidade com a tecnologia de outro lado.

Sabemos que essa mescla de forças pode acarretar inovação, capacidade produtiva, criatividade. As habilidades vão crescendo à medida que esses grupos diversos conseguem interagir. 

 

Conflitos são naturais e necessários

Sabemos que conflitos sempre farão parte de um ambiente corporativo saudável. Se ambos, maduros e jovens, conseguem entender sua contribuição para o todo, o resultado é sempre benéfico e, ainda mais eficiente. Essa é a força da diversidade.

Entretanto e, infelizmente, a prática de discriminação no Brasil é extremamente elevada se compararmos com países diversos, especialmente, Europa e EUA. Por serem países com população mais longeva e, obviamente, mais desenvolvidos também, já tinham experiência em como tratar essa questão tão importante nos dias de hoje. 

Muito antes do período pandêmico, o qual assolou o mundo de uma forma geral, as práticas de preconceitos e de discriminação etária sempre foram uma marca indelével do nosso mercado de trabalho.  

Não obstante, a questão da Previdência Pública, o INSS, não tem como escapar de uma conta matemática que não fecha. Ou seja, os números comprovam que a população está envelhecendo cada vez mais, a longevidade é um fato e que a faixa etária de mais jovens não consegue arcar com contribuições previdenciárias, em muitos casos, altas, para uma população economicamente deficitária. Tudo leva a crer que o sistema já faliu por todos os motivos já exaustivamente discutidos por estudiosos e profissionais da área, o que reforça o argumento de que o preconceito é ainda mais aviltante.

 

Preconceito já é percebido a partir dos 40 anos

A segregação dos profissionais maduros, 40+,50+, 60+ é totalmente descabida para os dias de hoje. Há grande preconceito para esses profissionais nos processos seletivos.

O preconceito com relação a profissionais 40+, que sequer são entrevistados, é imenso nos dias de hoje, sendo que em breve o legislativo vai trabalhar no aumento da idade mínima de aposentadoria e que o emprego, em função da automatização e Inteligência Artificial, será cada vez mais escasso.

Existe uma variedade de rótulos para profissionais de meia idade, tais como “atrasados com a tecnologia”, “mais cansados”, “menos energia”, “menos criativos”, “mais lentos”. Estes são rótulos e paradigmas em eventos sem estudo e sem comprovação. Não se pode generalizar casos esporádicos, ou melhor, casos de muitas gerações passadas sem contextualizar para os dias atuais.

Atualmente, 6 a cada 10 brasileiros 45+ acreditam que vão viver até os 90 anos. No Brasil, já há índices de que a expectativa de vida está em 76 anos, portanto, chegar aos 90 será mais do que natural. Porém, o mais importante também, é a chamada qualidade de vida. A extensão da vida – chamada de lifespan – deve também acompanhar o aumento da saúde e bem-estar da população durante o envelhecimento, conceito agora conhecido como healthspan.

Por outro lado, existem diferentes formas de encarar essa nova fase da vidaExistem grupos que se preparam desde cedo e sempre utilizaram métodos saudáveis de vida. Eu, por exemplo, sempre procurei buscar uma rotina salubre desde a adolescência, época em que tive sobrepeso e desde então, por aconselhamento médico, busquei treinamento em locais de exercícios físicos e esportes e nunca mais parei. Em um determinado momento fui considerada uma atleta de médio impacto porque participava de maratonas de corrida (5km), musculação, spinning, dança, power fitness, etc… 

Porém, existe um outro grupo de profissionais que só buscaram os requisitos de saúde e investimentos no autocuidado, depois que sofreram algum evento traumático neles mesmos ou em alguém da família. Finalmente, há os sortudos que, mesmo com baixo cuidado, têm vitalidade e poucos problemas relativos à saúde, casos extremamente raros, a meu ver, porque a saída de verdade, é o esforço e a tenacidade para manutenção do bem-estar.

 

Contratação de profissionais maduros traz vantagens

Atualmente, vemos que empresas inovadoras, corajosas, mais sensíveis, estão constatando que a contratação de profissionais de mais de 50 anos, tem sido uma grande fórmula de sucesso: são pessoas com bastante empatia quando se trata de vendas, contatos com clientes, fornecedores de materiais, são verdadeiros solucionadores de problemas em virtude da longa experiência de vida e laboral.  

Por outro lado, há um estudo de três Trendbooks do FDC Longevidade, primeiro hub de conhecimento em gestão da longevidade no Brasil que afirma que a longevidade não é um empecilho, ao contrário, é um fator de crescimento e de desenvolvimento para as empresas, em geral, e por outro lado, apresenta a necessidade premente de novos profissionais que atendam as demandas dos longevos.

. O TrendBook Sociedade é um mapeamento que compõe o terceiro eixo do projeto da FDC Longevidade – iniciativa da Fundação Dom Cabral (FDC) com apoio técnico da Hype50+ e patrocínio da Unimed BH – reflete que o descompasso tem uma raiz. 

É necessário que haja formação e treinamento dos novos profissionais. O TrendBook Sociedade traz uma lista das 10 profissões ligadas à longevidade populacional.

O Brasil é um país que, necessariamente, precisa se antecipar e desenvolver seus mecanismos de acelerar um processo de absorver profissionais mais maduros, pois o longo período de envelhecimento populacional que aconteceu em países mais maduros e desenvolvidos, ocorrerá em poucos anos no Brasil, agravado pelo fenômeno da pandemia.  

 

Aprendizado deve ser uma constante durante a vida

Hoje em dia, aprender é um diferencial.  A expressão  conhecida  lifelong learning – faz com que exista sempre a possibilidade de se renovar, aprender e se reinventar, e faz com que as pessoas se sintam parte da sociedade. O pilar principal do lifelong learning é o estudo contínuo.

A educação continuada representa o conceito de que “nunca é cedo ou tarde demais para se aprender”, uma filosofia que tem sido adaptada por uma vasta gama de organizações diferentes.” Wikipédia

Minha experiência profissional focada na área jurídica sempre foi de aprendizado constante, por conta da própria atividade que sempre exigiu muito da minha parte técnica e atualização da legislação em vigor (hard skills). 

Em uma época em que as soft skills (competências socio-emocionais)  não eram valorizadas, tive que me reinventar e criar maneiras de incrementar o meu repertório de carreira. Foram muitos anos absorvendo novos conhecimentos como por exemplo, a técnica de Constelações Familiares, utilizada atualmente, em larga escala, em algumas avançadas Varas de Família.

Joseph Teperman, em seu clássico Anticarreira, o Futuro do Trabalho, O fim do Emprego e do Desemprego, analisa com muita precisão:

“Para Busarello, o tempo é impiedoso: executa o executivo que não se renova: “Ele vai chegar no meio para o final da carreira, conhecendo tudo de pistão, de pneu, de fralda, detergente, de refrigerante. Mas vai olhar para seu grid de competências e ver que não vai conseguir avançar muito, porque descasou muita competência. Tenho observado muito isso no meu meio. Vejo muitos executivos que perderam o emprego em reestruturações, demissões, fechamento de empresas e não voltaram para o mercado. O cara olha para o mercado e fala: não sou mais útil.

E então? Convencido de que está na hora de mudar a forma como você pensa e leva sua carreira?”

Corroborando todos os argumentos de desenvolver as habilidades de relacionamentos e de postura coletiva dentro da sua própria comunidade, existe um conceito atual e bastante interessante, que é chamado de Blue Zones, ou Zonas Azuis, que são regiões ao redor do mundo em que as pessoas vivem mais com saúde e sem remédios. Os cientistas de Harvard constataram que o bem estar de determinadas regiões do mundo, como Nicoya na Costa Rica, Sardenha na Itália, Okinawa no Japão, estava focado no estímulo das relações sociais. 

Na minha visão de inteligência emocional, desenvolver habilidades de estar em conjunto, é fundamental para o trabalho em equipe e para a vida em geral. A descoberta de que podemos conviver com vários tipos de pessoas é enriquecedor e traz mais força à questão da longevidade, porque na maioria das vezes, nossos ascendentes falecem (ordem natural) e nossos filhos crescem e buscam seus caminhos e escolhas de vida.   

Finalmente, por todos os motivos narrados, indivíduos e profissionais mais experientes, maduros, não são “velhos”, “obsoletos”, “retrógrados” como vigorou durante o maior período da  nossa história, e sim pessoas com vivências e experiências diversas, prontos para contribuir na construção de um mundo  melhor e igualitário.